Se eu disser pra você que hoje acordei triste,
que foi difícil sair da cama, mesmo sabendo que o sol estava se exibindo lá
fora e o céu convidava para a farra de viver, mesmo sabendo que havia muitas
providências a tomar, acordei triste e tive preguiça de cumprir os rituais que
faço sem nem prestar atenção no que estou sentindo, como tomar banho, colocar
uma roupa, ir pro computador, sair pra compras e reuniões – se eu disser que
foi assim, o que você me diz? Se eu lhe disser que hoje não foi um dia como os
outros, que não encontrei energia nem pra sentir culpa pela minha letargia, que
hoje levantei devagar e tarde e que não tive vontade de nada...
... Tem dias que não estamos pra samba, pra rock, pra hip-hop, e nem pra
isso devemos buscar pílulas mágicas para camuflar nossa introspecção, nem
aceitar convites para festas em que nada temos para brindar. Que nos deixem
quietos que quietude é armazenamento de força e sabedoria, daqui a pouco a
gente volta, a gente sempre volta, anunciando o fim de mais uma dor – até que
venha a próxima, normais que somos.
texto de Martha Medeiros
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